domingo, 23 de junho de 2013

Ariranhas

Meu pai gostava de ariranhas.
E de assistir a concertos de música clássica na televisão, de tortas de banana e do Frank Sinatra. De tocar piano nas manhãs dos fins de semana, acordando quem ainda estivesse dormindo, de pintar quadros escuros abstratos e de falar ao telefone com os amigos de longa data. De ler revistas, de vinho tinto e dos Demônios da Garoa. Também gostava de gritar com a gente de vez em quando.
Gostava de ver reportagens sobre ufologia e assuntos sobrenaturais, e achava ridículo o medo que eu tinha dessas coisas quando criança.
Gostava de contar histórias de quando voava de avião e saltava de asa-delta e usava gravatas-borboleta. De me contar a história de uma boneca estragada que ganhou vida porque encontrou alguém que a amava como ela era.
Gostava de saber que eu estava aprendendo francês e violino.
Mas agora mesmo, o que me fez chorar foi que, depois de tantos anos, senti vontade de ir ao zoológico, e lembrei que meu pai gostava mais das ariranhas.

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