segunda-feira, 23 de junho de 2014

Metade saudade, metade rancor

Mais uma noite na qual pego o computador, abro um arquivo e me obrigo a escrever - mas não sai nada.
Justo hoje.
Hoje faz um ano que você se foi, e ainda me pego te procurando quando entro naquele quarto. Estranha essa mania das pessoas de procurar ver o que não está mais ali.
Às vezes gostaria de ainda ser aquela menininha que subia no seu colo e lhe pedia para contar (pela enésima vez) a história daquela boneca que, mesmo quebrada e cheia de defeitos, ganhou vida porque alguém a amou como era. Mas não sou uma menininha há muitos anos, você não está mais aqui e tenho muito mais defeitos do que a boneca da sua história.
Só o que me resta são as lembranças. E quando começo a lembrar das suas particularidades, das suas manias, descubro-me tão parecida com você que me assusto - principalmente quando penso no seu fim.
Eventualmente, me pergunto se você se orgulharia da mulher que me tornei, mas raramente chego a uma resposta. Recordo aquela vez na qual você me viu chorando por um cara e, em vez de me consolar, falou que eu devia parar de agir como uma retardada. Naquela época doeu, mas hoje acho que foi a melhor coisa que você poderia ter dito.
Talvez por isso eu tenha tido aquele sonho dias atrás, no qual você me lançava os mais diversos insultos, e eu tentava me convencer de que era sua doença falando, mas você sequer parecia doente.
Neste momento sou metade saudade, metade rancor; em vários sentidos.
Perdi você, meus avós, meus tios e a tia Gracinha, que na verdade era sua tia, que me pegava no colo e fazia bolo de fubá. Aprendi que amor também se esvai.
Reflito sobre todas essas saudades, sobre o inevitável processo de endurecimento do meu coração, sobre uma boa maneira para finalizar este texto.
Não chego a conclusão alguma que me agrade.



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