terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pó de fada

"A menina vive com os olhos nos livros e a cabeça nas nuvens".
Era isso o que costumavam falar dela.
E se importava? Não. Seguia assim seu caminho, com um livro nas mãos, os olhos fixos na leitura, os pés seguindo vagarosamente pelas calçadas. Mal notava as árvores pelas quais passava; nem que, apenas por muito pouco, não esbarrava em algumas delas.
Nos últimos dias, viajava pela Terra do Nunca com Peter Pan e Wendy, e juntos, voavam pelo céu estrelado com a ajuda do pó de fadas e derrotavam o Capitão Gancho.
"Que bobagem! Não vê que você não é mais criança? Tire essas histórias da cabeça: está na hora de crescer".
Que palavras duras de se ouvir! Mas não eram elas bem verdadeiras? Ela estava crescendo, e sabia. Há tempos já não parecia uma menininha: via no espelho uma jovem mulher. Entretanto, via também os olhos  da menina que nunca abandonaria as histórias fantásticas que a faziam sonhar.
E então, veio a percepção: porque se contentar em ler apenas as histórias alheias? Iria escrever as suas próprias!
E assim passava seu dia, agora: entre ler e escrever, escrever e ler. Muitas histórias precisavam ser contadas.
"Menina, deixe de sonhar com essas histórias de fadas! Você vive no mundo real".
Ela concordou com a cabeça, muito séria. Mas por dentro riu-se, pois disso já sabia: vivia, sim, no mundo real. E aqui não precisava de pó de fadas para voar.



Para Gabriella Lara.

4 comentários:

  1. Lindo o texto Lívia, lindo mesmo! Parabéns pela escrita contagiante e meiga! O mais gostoso dessa leitura é ver, ao fim, que essas belas palavras foram dedicadas a alguém. Não tem nada melhor do que ver um texto que nasceu na inspiração de outra pessoa, feito com carinho e bons sentimentos. Parabéns pelo talento, muito sucesso pra ti e muito pó de fada pra quem sabe voar sem magia. :D

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  2. Curti demais, não conhecia o blog, acabo de ver na Skynerd, certamente voltarei mais vezes ^^,

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    1. Obrigada, Anderton! Será um prazer ter a sua presença aqui!

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  3. Bacana o texto sobre esse conflito entre fantasia e realidade. Aprendo com Chesterton a amar os contos de fada, com Jesus a não destruir a criança existente em nós e paradoxalmente com Martin a matar o menino (atitudes de moleque) e abraçar a vida adulta. Parabéns!

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