quinta-feira, 20 de março de 2014

Amigas ruivas

Passo o dia tentando arquivar na memória todas as palavras, frases, orações profundas e esteticamente belas que não posso escrever de imediato. Quando chega a noite, a memória está vazia de palavras que valham a pena.
Não há memórias de palavras, apenas de cenas, acontecimentos reais ou imaginários, delírios.
Em meio ao caos, uma cena sempre retorna: uma noite em frente ao boteco daquela faculdade no interior. Estava conversando com uma amiga. Talvez sobre política, sobre arte ou algo do gênero - eram nossos assuntos favoritos. Então, uma colega veio descendo a rua. Baixinha, cabelos ruivos bem curtos, rosto redondo, nariz arrebitado. Não era o tipo de mulher que muitos chamariam de bonita; mas certamente era marcante. E naquela noite, descendo a rua, não parou para se juntar à nossa conversa de bar, como de costume. Cumprimentou rápido, passou reto. Percebi que tinha os olhos marejados.
"O que ela tem?", perguntei à nossa amiga. "A pessoa que ela ama é casada".
Senti pela amiga ruiva. Pensei que realmente deveria ser uma situação desagradável. Mas eu não entendia, não é? Não tinha como entender.
Até recentemente, quando também desci uma rua chorando, uma rua muito distante daquela, os cabelos longos e ruivos escondendo o rosto - pelo menos eu ainda tinha essa vantagem. Porém, diferente da minha colega, parei num bar. Entrei, pedi uma cerveja e convidei um amigo para se juntar a mim. Nessa noite, entendi tudo.
E depois de algumas garrafas e muitas conversas, de toda culpa e covardia, a mensagem de despedida: "Foi bom te ver hoje :)"

2 comentários:

  1. Perfeito minha queridona Ruiva ;)

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  2. Umas Boas Risadas Regadas A Cerveja (No Meu Caso, Vodka... Não Gosto De Cerveja...) Com Um amig Fazem Sentir Beeem Melhor...

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