quarta-feira, 20 de junho de 2012

A noite, o silêncio, o quarto escuro e todas as coisas que dali vêm

Há uma noite. Há um quarto. E há um homem.
A noite é silenciosa, o quarto é escuro e o homem é solitário.
Por muitas noites, através de longos anos, ele esteve naquele quarto. E por muitos anos as noites foram silenciosas e solitárias. Com exceção de algumas.
Em algumas noites particularmente silenciosas, quando a solidão é demasiado grande e o quarto está especialmente escuro, ele grita.
Grita palavras desconexas e os nomes das pessoas que ama. Geme e ruge.
E grita por socorro.
Qual o motivo para que grite por socorro? A cama está quente, ele está bem alimentado e fisicamente seguro. Nenhum mal pode acontecer a ele.
Nenhum mal, senão aqueles que remói dentro de si mesmo: as lembranças de todos os erros que cometeu durante uma longa vida, os rancores acumulados durante os anos, a solidão que atraiu para si, as memórias de todos aqueles que abandonou. Males que intensificam a escuridão do quarto.
Então, ele grita. Algumas pessoas o escutam, inclusive eu.
Alguém vai até ele. Ordena que se cale. Grita ainda mais alto, e esses gritos são ofensas e ameaças. Bate a porta estrondosamente.
Esse alguém não entendeu o motivo dos gritos, mas eu entendo. O homem no quarto quer ser ouvido. Quer saber que ainda possui uma influência no mundo; quer ter certeza de que ainda tem uma voz e que alguém ainda se incomoda ou se importa com ele. Quer saber que está vivo.
Entretanto, apenas observo; escuto os gritos, mas não os atendo. Sinto-me impotente.
Entre tantas coisas que eu poderia desejar, desejo que pudesse fazer alguma diferença nesse cenário. Talvez eu faça, mas não o suficiente.
Assim, o que me resta é oferecer a certeza de que, por mais que o quarto esteja escuro durante a noite, em alguma manhã estarei na porta com meu sorriso melancólico (porém sincero) e, embora eu não diga nada, ele vai saber o que quero dizer: Não precisa gritar, estou te ouvindo muito bem.

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