sábado, 23 de junho de 2012

A noite que não deveria ter sido

A noite deveria ter sido reconfortante. Uma companhia conhecida, um cobertor quente, um belo filme. Deveria ser um alívio ao fim de uma semana triste, permeada por angústias, dúvidas, arrependimentos e receios. Uma noite de descanso.
Começou bem. As coisas sempre começam bem. No início, todos são bons, pois é assim que desejam ser vistos.
Mas quando as luzes se apagam, os corpos se aproximam e o desejo ferve, a besta interior sente necessidade de mostrar as garras, exterioriza-se e toma conta da cena.
E então as mãos que deveriam afagar ferem, o desejo se torna pânico e a entrega se transforma em posse.
Se ao menos pudesse haver compreensão entre dois seres...
É difícil escapar. Finalmente, o que resta é mágoa, decepção e algumas leves dores.
Comportamento justificável? Não. Certas coisas podem até ser perdoáveis, mas nunca justificáveis.
E assim, mais uma ferida se abre na alma. Mais uma porta para a insegurança. E a descrença, antiga conhecida, dá mais um passo em direção a uma cidade fantasma interior, até o dia em que encontre ali uma moradia, decore-a com retratos daquele amor perdido e com fragmentos de memórias de dias melhores e decida instalar-se definitivamente.

                                                            Ophelia, Alexandre Cabanel.

Um comentário:

  1. Não sei se os piratas gostam de suas cicatrizes, mas os definem e lhe caem muito bem
    Como tatuagens, de uma certa forma,
    pois mostram que superam a dor,
    já passaram por muita coisa, não são bobos.
    São fortes, preparados e
    nem por isso, largam seu barco ou desistem do mar.

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