segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A herança que importa

"Ninguém mais tem o costume de se arrumar para ir a um bom restaurante".
Foi esta a frase que me motivou a escrever hoje, dita por meu irmão mais velho.
Direi o contexto.
Hoje comemoramos o aniversário de nossa mãe. Reserva feita num restaurante alemão elegante, as meninas foram se aprontar: tirei do armário um vestido novo, de bom corte e estampa delicada. Passei um bom perfume, completei com uma maquiagem suave. Mamãe também usou um vestido novo, pérolas e seu Chanel Nº 5. Nossa família pode não ser abastada, mas bom gosto sempre existiu.
Chegamos ao lugar: nossa mesa era perto da janela, e através dela podíamos ver os beija-flores no jardim. Tivemos um almoço agradável, conversamos sobre amenidades, tomamos um bom vinho, rimos. Mamãe estava radiante.
Enquanto isso, na mesa ao lado, alguns amigos beirando a meia idade se reuniam. Bebiam e falavam alto. Não eram, visivelmente, pessoas não acostumadas àquele tipo de ambiente. Ainda assim, algo neles destoava do lugar: "as mulheres parecem competir para ver quem tem a saia mais curta", comentou minha cunhada. "E os homens, a camisa mais feia", eu deveria ter completado.
De qualquer maneira, tínhamos assuntos mais interessantes, e este logo foi deixado de lado.
Porém, mesmo depois de voltarmos para casa, não pude deixar de pensar que, de fato, meu irmão está certo: as pessoas perderam o costume se de arrumar para ir a certos lugares. Usam uma minissaia ou uma camisa caras e sentem-se bem vestidas, esquecendo que não é isso que as torna mais finas.
A real finesse tem muito mais a ver com a maneira de comportar-se, a delicadeza, os modos. Talvez por isso algumas pessoas não frequentem lugares mais refinados: por saber que não saberão se portar.
Como se vestir da maneira correta, saber quais as taças certas para vinho ou água, usar o guardanapo adequadamente e ainda parecer natural, e não alguém interpretando um personagem caricato? Difícil, não?
Não se vier de berço. Às vezes, penso que, se a estabilidade financeira se conquista, o refinamento talvez seja algo que não pode nunca ser conquistado, e que nada tem a ver com o volume de uma conta bancária ou treino persistente de boas maneiras (personagens, personagens).
Recentemente, me espantei ao me contarem que uma determinada pessoa me invejava, assim como ainda estranho quando alguém antipatiza imediatamente com a minha pessoa, sem nenhum motivo razoável. Questionei internamente o por quê disso durante um bom tempo, até que, ao exteriorizar minha dúvida, recebi em troca uma outra questão: "Você deveria se perguntar se realmente não tem nada que possa causar essa reação".
Então, eu pensei. E pensei.
E apenas hoje, depois de um almoço em família, entre taças de vinho branco e amenidades, me ocorreu o que, talvez, seja a resposta: apesar de não haver nascido em berço de ouro nem ser herdeira de nenhuma fortuna, nunca precisei de roupas mínimas para chamar a atenção. E sei exatamente o que fazer com o guardanapo num bom restaurante.