sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pardonnez moi, s'il vous plaît

Não tenho companhia para ir ao cinema amanhã. Gostaria de ver aquele filme para o qual você me convidou com tanto entusiasmo, mas não iremos assisti-lo juntos. Nem a esse, nem a nenhum outro.
Sei que seria ótimo, que nos empolgaríamos como adolescentes e falaríamos sobre o enredo, os personagens, as possíveis continuações e as inúmeras teorias durante todo o caminho de volta, riríamos de coisas bestas e não veríamos a hora passar.
Sinto muita falta disso, você sabe.
Mas não posso voltar atrás, entende? Não posso voltar, pois também sei o que se passaria "secretamente, entre a sombra e a alma" - como diria Neruda, pois os poetas sempre sabem das coisas.
Sei da ansiedade que precederia o encontro. Sei como eu sorriria quando você chegasse, como suas gentilezas me deixariam mais leve. E como, mesmo atenta ao filme, eu ficaria consciente da sua presença. Como o simples desejo de poder segurar sua mão ou deitar a cabeça no seu ombro me faria sentir tola e leviana. E durante a caminhada de volta, quando caísse entre nós o silêncio inevitável que sucede cedo ou tarde, eu teria de desviar o olhar, caso contrário me entregaria, transparante como meu nome.
E depois que me deixasse no portão de casa, me abraçando em despedida por meio segundo (que eu desejaria fosse meia hora, meio dia),  eu te imaginaria voltando para a sua vida. E quando chegasse ao elevador, a culpa começaria a me tomar, dez por cento a cada andar, até que, ao abrir a porta do apartamento, encontrando apenas as gatas e o silêncio, me sufocaria inteiramente.
Assim, sufocada pela culpa, paradoxalmente desolada, eu escreveria. Escreveria sobre melancolia e benquerença, sobre a solidão e as auto-acusações. Perderia uma ou duas noites de sono. "Afogaria-me em Ofélias".
E de algum modo, hora ou outra, você saberia. O que, certamente, me faria sentir ainda mais inconveniente e condenável.
Sendo assim, peço desculpas pela impertinência e pelo lirismo, pelas palavras e períodos que o espírito de pretensa escritora não pode conter. Sempre fui de tempestades.
Ausento-me não por gosto, mas por precisão. Não por falta de sentimento, mas por demasia.

Pardonnez moi, s'il vous plaît.