domingo, 29 de junho de 2014



 Não escrevo hoje com pretensão literária alguma. Este texto, na verdade, possui uma única e simples função: dizer-te o quanto você é um babaca.
Doeu? Então respira fundo e relaxa, porque vai doer mais. Espero que doa tanto quanto doeu em mim quando você me fez de trouxa. Eu sei, falei que não estava com raiva e tal. Mas sentimentos são mutáveis, ainda mais nessas situações. 
Partirei do pressuposto de que você nem faz ideia do que eu estou falando. Portanto, comecemos com uma citação clichê, dessas que toda miss usa uma vez na vida (mesmo porque foi isso que você se tornou na minha história: um cara clichê, com atitudes clichês).
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Meigo, né? Já deve ter estampado milhões de capas de cadernos, agendas, camisetas e alguns daqueles adesivos cafonas que as pessoas colam nos carros. E mesmo assim, a humanidade caga para o significado dessa oração.
Para não me demorar neste assunto, resumirei minha humilde interpretação: se você se aproxima de uma pessoa com a intenção de forjar qualquer tipo de vínculo saudável, a sua obrigação é, no mínimo, não cagar na vida dela. 
Não parece muito difícil, né? Mas é. 
É difícil lidar com seus problemas pessoais e não envolver outras pessoas nos seus assuntos mal resolvidos. Mais difícil ainda é pensar com a cabeça de cima quando tem uma ruiva semi bêbada ao seu lado no sofá, toda confiante. 
É tão difícil que você não se lembra de que, teoricamente, não tinha segundas intenções ao entrar no apartamento de uma mulher solteira que mora sozinha. Nem se lembra de que em algum lugar do mundo existe uma pessoa que você chama de namorada, mesmo que, aparentemente, ninguém saiba dessa relação (se é que ela existe).
Então é isso aí, sua consciência se nubla e repentinamente você é só um macho tentando pegar uma fêmea. Essa parte eu até que me esforço pra compreender. Hormônios, instinto etc. Um par de peitos na sua frente e foda-se a razão. Como você mesmo disse, você abraça a causa. Abraça, beija, aperta, apalpa e dorme abraçadinho, na verdade. 
O problema é que a causa não vira uma pizza no dia seguinte, né campeão? A causa levanta e vai trabalhar achando que teve uma noite legal, que talvez se torne um lance bacana. Até releva o fato de você não ter as mãos mais habilidosas do mundo, afinal essas coisas podem ser ensinadas.
É aí que bate o desespero, né? No dia seguinte a vida continua, mas a noite passada não será apagada da história, então é melhor marcar aquele encontro como quem não quer nada, preparar a expressão clássica de arrependimento e assumir de vez que fez cagada. Em seguida você some, espera algum contato e depois usa a oportunidade para se vitimizar um pouco, afinal está sofrendo tanto com a situação na qual você mesmo se colocou. 
Acontece que ninguém vai passar a mão na sua cabeça e te chamar de bom garoto por ter reconhecido o erro: isso era o mínimo que qualquer ser humano vagamente decente deveria fazer. Em vez disso, serão cobradas algumas respostas que possam redimir seu caráter, ao menos em partes. 
Putz, respostas? Ai, que preguiça. Você não deve satisfações a ninguém. Nem à sua namorada, nem à outra pessoa que você envolveu nisso.
Mas, por um lado, tá tudo certinho né? Você vai se retirar por um tempo, se remoer de remorso e depois agir como se nada tivesse acontecido. Então vai ficar tudo bem, não vai?
Não, não vai. 
Não vai porque, graças a uma mancada sua, graças a uma tentação à qual você (diz que) não conseguiu resistir, existe uma pessoa que já possuía sérios problemas de confiança e agora acredita que não confiará em mais ninguém até a próxima encarnação. Existe outra pessoa que foi traída e talvez ainda nem desconfie disso. 
E quanto a você, amigão? Sinto dizer, mas você entrou para as estatísticas: toda vez que se deparar com uma matéria dizendo que quase metade dos homens já traiu uma parceira, lembrará que pertence a esse grupo. 
Pior: imaginará a quantidade de meninas ingênuas e românticas que têm seus corações partidos toda vez que leem uma pesquisa dessas, passando cada vez mais a acreditar que "homem não presta mesmo" e que romantismo é utopia. 
Agora eu sou o dedo na sua ferida, certo? Ótimo. Você reabriu todas as feridas na minha confiança, então acho justo. 
Quem sabe da próxima vez você assuma logo que só quer alguém por uma noite, sem precisar de demonstrações de afeto para ganhar a confiança da pessoa e de desculpas no dia seguinte. Talvez você considere que aquele ser tão bom de apalpar tenha um coração debaixo da carne macia, e que eventualmente esse coração tenha sentimentos. Ou quem sabe você varra essa história toda pra baixo do tapete e siga a vida como se nada tivesse acontecido. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Metade saudade, metade rancor

Mais uma noite na qual pego o computador, abro um arquivo e me obrigo a escrever - mas não sai nada.
Justo hoje.
Hoje faz um ano que você se foi, e ainda me pego te procurando quando entro naquele quarto. Estranha essa mania das pessoas de procurar ver o que não está mais ali.
Às vezes gostaria de ainda ser aquela menininha que subia no seu colo e lhe pedia para contar (pela enésima vez) a história daquela boneca que, mesmo quebrada e cheia de defeitos, ganhou vida porque alguém a amou como era. Mas não sou uma menininha há muitos anos, você não está mais aqui e tenho muito mais defeitos do que a boneca da sua história.
Só o que me resta são as lembranças. E quando começo a lembrar das suas particularidades, das suas manias, descubro-me tão parecida com você que me assusto - principalmente quando penso no seu fim.
Eventualmente, me pergunto se você se orgulharia da mulher que me tornei, mas raramente chego a uma resposta. Recordo aquela vez na qual você me viu chorando por um cara e, em vez de me consolar, falou que eu devia parar de agir como uma retardada. Naquela época doeu, mas hoje acho que foi a melhor coisa que você poderia ter dito.
Talvez por isso eu tenha tido aquele sonho dias atrás, no qual você me lançava os mais diversos insultos, e eu tentava me convencer de que era sua doença falando, mas você sequer parecia doente.
Neste momento sou metade saudade, metade rancor; em vários sentidos.
Perdi você, meus avós, meus tios e a tia Gracinha, que na verdade era sua tia, que me pegava no colo e fazia bolo de fubá. Aprendi que amor também se esvai.
Reflito sobre todas essas saudades, sobre o inevitável processo de endurecimento do meu coração, sobre uma boa maneira para finalizar este texto.
Não chego a conclusão alguma que me agrade.



terça-feira, 17 de junho de 2014

"Sinônimo de culpa"


"Sabe, eu acho que todo cara que faz uma cafajestagem deveria receber uma marca na testa, feita com um belo facão, como eles faziam em Bastardos Inglórios, para que o que eles são nunca pudesse ser ignorado ou escondido. Ou fazer uma tatuagem com a Lisbeth, de Os Homens que não Amavam as Mulheres.
Depois os caras reclamam se a mulher se torna uma megera... porra, mas a gente tenta, não? Tenta acreditar e até ser romântica, mas daí vem a vida... e os homens."

Pois é, minhas amigas têm opiniões um tanto radicais acerca de falhas de caráter. E elas têm motivos para isso.

Ou não.
Talvez, no fundo, sejamos mesmo só um bando de histéricas, exageradas e paranoicas fazendo dramas por nada.
Como quando aquele cara falou que sonhava com uma família só porque era a melhor estratégia para conquistar minha confiança.
Ou quando aquele outro declarou-se em uma noite, dizendo que queria tanto me ver que não poderia esperar o dia seguinte. Depois compreendi: no dia seguinte, comprometeu-se com outra mulher.
Ainda houve aqueles para os quais fui objeto de traição, sempre com a mesma desculpa: "não sei o que aconteceu, não consegui resistir".
A partir daí concluí, obviamente, que a culpa é minha, tanto como é da vítima de saia curta a culpa pelo estupro.
Tanto como foi minha culpa quando aquele amigo de uma década quase me forçou ao que eu não queria. Pobre rapaz, me achou tão irresistível que não percebeu quantas vezes o mandei parar, nem meu esforço para me livrar.

Mas no fim, não importa. Qualquer coisa que te faça debruçar por quase três horas sobre um texto e, ainda assim, não traga uma inspiração decente, não pode valer a pena.


Talvez por isso eu ainda escreva tanto pensando em você, inclusive textos que nunca publico. Escrevo para você sem intenção alguma, pois vale a pena escrever; porque a inspiração é tal que não pode ser negligenciada. Meus melhores textos ainda são, se certa forma, para você... Sir.