“Algum dia vou escrever
pra você.”
“Não, não vai.”
Foi isso o que dissemos
naquela segunda vez que dormimos juntos, na casa daqueles amigos, altas horas
da madrugada. Mas eu sou a escritora rebelde, minha palavra é desobediente:
escrevo agora como a criança que bate o pé. “Você não manda em mim.” Orgulho de
virginiana.
Não que você não fosse
gostar que eu te escrevesse. Pelo contrário, desde aquela época eu sei que você
gostaria, de verdade, mas ficaria sem graça, logo você, o Senhor Sem Vergonha,
o Pau pra Fora.
Mais tarde, você me disse
que não sabia lidar com demonstrações de carinho, o que, veja bem, é uma grande
ironia: troco meu coração por um cookie, mas cookies são doces. Renego o
romantismo, mas não deixo de ser carinhosa. Você era um puto, mas um puto de
alma lúdica e coração de ouro.
E assim passamos as
semanas: eu, que não queria ninguém por perto, esperando uma mensagem, qualquer
gracinha sua; você, sempre durão, fazendo pequenas amabilidades.
Você chegou no meu momento
solitário, quando sentia-me dura e indesejável, e mudou tudo isso.
“Você me fez acreditar. E
ver que, às vezes, mulheres são turronas, mas são fofas e gentis”, foram as
suas palavras.
Agora só desejo que você
seja estupidamente feliz, ronronando num colo mais amoroso que o meu, recebendo
um sorriso mais leve. Que dure o tempo que tiver de durar. “Que seja doce.”
Desculpa, sei que te
deixei sem graça de novo. Não fiz por mal. É que eu “gosto tanto de você,
leãozinho”.