quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Tenho um suéter cinza que era do meu pai. Na verdade, foi uma das últimas peças de roupa que ele ganhou, antes que a ferida nas suas costas deixasse os ossos quase expostos e vesti-lo parecesse um ato mais cruel do que amoroso. Nos seus últimos dias de vida, o aquecíamos apenas com cobertas.
Uso o suéter em casa sempre que esfria um pouco. Fiz dele meu pijama favorito. Poderia usar outros agasalhos, mas não me aqueceriam da mesma forma. Vago pela casa com o suéter masculino, grande demais para mim, já um tanto molambento.
Não preciso de mais nada, preciso? Uma multidão de lembranças me faz companhia. Meus fantasmas me consolam, me enxugam as lágrimas.
Tenho meu suéter cinza e meus comprimidos - durmo meu sono sintético no abraço da saudade.

Um comentário: